Jeffreys Bay Tubarão ou Perfeição?

Nas ultima semanas muito se falou sobre o “suposto” ataque que o excelente e carismático tricampeão mundial Mick Fanning sofreu, posteriormente alguns especialistas vieram na mídia esclarecer que não foi propriamente um ataque, entretanto, uma “checagem"; Que partindo de um animal dessa envergadura pode custar um braço ou uma perna, felizmente neste caso custou apenas um leash.

 

Quando comecei a viajar meu foco eram as direitas perfeitas que cresci assistindo nos filmes da serie “The Search” ou nas psicodélicas edições de Jack McCoy, filmes que pareciam nos transportar para o line-up. Então, um dos meus sonhos era conhecer a famosa onda de J-Bay.

 

Quando cheguei em Jeffreys pela primeira vez em 2002, fui recebido na cidade vizinha Port Elizabeth, pelo gente finíssima Gary e seu filho Dave (David Yosh), locais e donos do “Bed & Breakfast” Cristal Cove em Supertubes. Como precisávamos viajar de carro por aproximadamente 40 minutos ate J-Bay, fui fazendo algumas perguntas, já era noite e meu coração batia forte pela emoção de conhecer uma onda tão mitologia, que cresci assistindo nos filmes e desejando um dia ter a chance de surfá-la. Quando chegamos na pousada era noite e não conseguia ver o mar para entender o tamanho e a perfeição que me esperava para o dia seguinte, sabia que não conseguiria dormir aquela noite...!

 

Já na sede da pousada, tomávamos umas cervejas e jogávamos sinuca, Gary é quase um profissional e eu estava sendo literalmente “escovado” por ele na mesa, mas não estava nem ligando, para mim tudo era motivo de passar o tempo e fazer mais perguntas, estava ansioso e não acreditava que estava ali, me lembro que umas das coisas que me falaram na conversa quando eu perguntei “e amanha, pretendo cair ainda escuro e vocês? Dave (que tinha medo) me questionou de volta “It depends how big are your balls?”, prefiro não traduzir, mas acho que ficou claro, então perguntei porque shark? Ele disse que sim com a cabeça e Gary imediatamente interviu, que nada eles existem aqui mas não atacam, fique tranquilo e surfe na hora que quiser, ambos eram locais, mas Gary tinhas quase cinquenta anos e Dave uns 16…Me lembro de nossa conversa naquela dia, Dave me disse que existia um estudo no qual dizia que haviam aproximadamente 27 tubarões residentes na baia de J-Bay, e Gary completava que eles não atacavam…Naquela noite preferi acreditar no Gary, pois era melhor para mim e me sentiria mais confortável na agua.

 

Ate hoje, Jeffreys continua sendo minha onda favorita no planeta, talvez meu lugar favorito em todos os sentidos, fui algumas vezes desde de 2002 e realmente nunca me preocupei muito com tubarões, já passei uma ocasião que estava em Supertubes os surfistas começaram a alertar que haviam visto um grande tubarão, todos começaram a sair da agua, lembrando que não é tão simples sair da agua em Supertubes, mas nesta ocasião Gary e outros veteranos que estavam na agua nem pensaram em sair, na verdade acharam ótimo que o crowd estava se dispersando, bom eu na duvida sai também! Depois desse episódio, coloquei apenas uma regra quando eu estava em J-bay, não caia sozinho! Continuava surfando cedo e ate final de tarde, desde que houvessem mais pessoas para dividir o risco comigo.

 

Jeffreys Bay nunca havia “registrado" um ataque anteriormente, apesar de ter ocorrido algumas “ocasiões”, nada que gerasse um registro oficial, entretanto, recentemente a região tem um aumento de ataques, que nem os cientistas sabem explicar ao certo o motivo, os mais atacados, são os surfistas. De acordo com dados de ONGs que lutam pela preservações dos tubarões, foram registrados dois ataques em 2015 anteriores ao de Mick Fanning. Em 5 de julho, Caleb Swanepoel, de 19 anos, perdeu a perna direita enquanto surfava em Buffels Bay. Um dia antes, Dylan Reddering, 20, foi mordido nas nádegas e no quadril enquanto surfava em Plettenberg Bay.

 

Ao todo, já foram compilados em registros oficiais 117 casos de mordidas a surfistas (incluindo as modalidades windsurf bodysurf) no país. O que deixa a África do Sul em primeiro país, no topo da lista, com os maiores numero de ataques e o continente africano fica em terceiro lugar.

 

Não só nas perfeitas direitas de Supertubes temos visto esta mudança de comportamento do meio ambiente, o fato é que as coisas estão mudando, lugares como oeste da Austrália que sempre eram visto muitos tubarões, recendente passaram a ter ataques, como próprio Mick Fanning disse em entrevistas, para nós surfistas o mar é o nosso "parque de diversões", mas não podemos esquecer que é “casa” deles.

 

Por: Andrei Malhado