Sobre Alimentos - Parte II

No último texto para o DuCampeche falei sobre a importância em escolher do que nos alimentamos, mas não somente no plano físico, também no sutil, escolhendo os nossos alimentos da alma, os amigos, os filmes, os livros e até os pensamentos. Tamanha abrangência deste tema, resolvi divagar mais um pouquinho a respeito.

Uma vez, trabalhando para um documentário gravado numa tribo indígena entre Rio e São Paulo, fiquei verdadeiramente impressionada com a rotina dos índios em relação à comida. Aquilo que eu tinha de ideia sobre a vida deles se rompeu completamente. Havia uma única vendinha anexa a uma sala de estudos e (pasmem!), eles só vendiam balas, biscoitos (do tipo destes de isopor com corantes e conservantes) e bolachas recheadas. Tiive a oportunidade de participar de uma refeição principal com eles e também não me pareceu muito nutritivo, pois serviram arroz com caldo de frango e mais nada. As crianças barrigudinhas, sentadas no chão da tribo, pés descalços, cada qual com seu pacote na mão, corriqueiramente lançado ao solo quando vazio, como se toda a aldeia fosse um cesto de lixo a céu aberto. Devido a cultura de que tudo na natureza se transforma, eles deixavam os sacos por ali, contando que a 'pachamama' fosse levá-los. No caso deles, o Homem lhes roubou a escolha :(

Só que bem perto disso, nas escolas do homem branco, o buraco também é lá embaixo. De acordo com nutricionistas e profissionais da escola que acompanham as crianças no dia a dia, fica evidente que toda esta má educação ligada à dieta também é proveniente da era do consumo. As caixinhas dos sucos e pacotinhos coloridos acabam sendo um tipo de moeda e transparecem poder e normalidade. Geralmente, as crianças não gostam de ser diferentes. E soubemos de histórias de pequeninos levando suas frutinhas para comerem escondidos no banheiro, com vergonha. Poxa! Uma coisa que era pra ser orgulho, de se estar comendo saudável, de ter consciência, de ter aprendido direitinho com os pais… Não é.

Se perguntamos a estas crianças, mostrando um pacote de batata chips o que é aquilo, somente pelo desenho, muitas vão saber responder: batatinhas. Mas se mostrarmos uma batata, vinda diretamente da terra, muitas não saberão o que dizer.  Se perguntarmos de onde vem o leitinho também poderemos ser surpreendidos com a seguinte resposta: Da caixinha.

Do meu histórico com alimentos vem uma infância pobre em nutrientes, oriunda de uma fase corrida na vida dos meus pais e nenhum conhecimento, já que na época, muito pouco se falava disso. Mas ainda bem, minha falecida vozinha mineira, despertou em mim a ideia de acrescentar verdes ao prato no início da adolescência. Depois veio o mundo. Fui morar na Itália já adulta e sofri influência muito benéfica da dieta mediterrânea. Dali pra frente mergulhei neste universo de cura e saúde através dos alimentos. Como jornalista escrevi e aprendi, como aventureira por aí acabei trabalhando em variados restaurantes e muito proximamente ligada à cozinha. E como uma coisa leva a outra, o corpo sutil foi pedindo yoga, meditação, boa vibe. Bom pra mim que me sinto mais feliz assim.

Hoje, paera em mim uma vontade cada vez mais forte pelo veganismo. Escrevo isso e vejo minha mãe falando: "Penélope enlouqueceu de vez, radicalizou…." Mas a verdade é que, além de dar pra comer muito bem, obrigada; sendo vegano e fazendo atenção ao cardápio, o extremismo do consumo da carne agradeceria. Ao meu ver, o mundo ideal seria um consumo beeeem mais consciente da carne, só que estou com pena dos bichinhos. Neste link, num exercício de atenção plena ao ato de cozinhar, fica difícil não pensar a respeito. 

Sei lá, neste momento, ainda não sei que escolha fazer. Minha filha está com 3 meses de vida, quero mostrar o melhor mundo pra ela e acho que isso vai me ajudar em muitas decisões.

 

Por Penélope Fonseca
Imagem: http://perdendobarriga.com.br/8-alimentos-que-voce-deve-comer-todos-os-d...