História do Sul da Ilha - parte 11

Dia de comemoração dos 45 anos

FAMÍLIA BATUEL DA CUNHA

No ano passado fui convidado para uma palestra na Igreja Presbiteriana do Rio Tavares por ocasião do lançamento do livro Campeche: um lugar no sul da ilha. Despertou-me o interesse de escrever sobre o Batuel Apolônio da Cunha Junior, seu Batuelinho um dos fundadores dessa Igreja. Acabei fazendo um inventário da família Cunha, cujos personagens masculinos já partilhei com todos no Facebook. Passo agora a tratar das três filhas mulheres do Batuel Apolônio da Cunha dando por finalizado o trabalho.

EDEVIRGES BATUEL DA CUNHA

filha mais velha do Batuel Apolônio da Cunha. Nasceu em 1915. Edevirges era costureira e casou com o Joaquim Torquato Vigânigo, nascido no Mato de Dentro no Campeche. Após o casamento passou a ser denominada de Edevirges Batuel Vigânigo.

Ela se destacava como uma das melhores costureiras da região tendo muita habilidade em tirar os moldes, corte e costura. Costurava tanto roupas masculinas como femininas confeccionando ternos sob-medida. O casal teve os filhos Anilson, Anísio, Anilton (Neném), Anísia, Amilton, Anilda e Anilce.

Após o casamento foram morar em uma casa nas proximidades da Igreja São Sebastião do Campeche. O casal vivia da pesca e agricultura e por um período Joaquim ocupou a função de militar. Edevirges faleceu em 11 de fevereiro de 1968 aos 53 anos de idade.

Sua filha mais velha, Anilce, também conhecida como Anita faleceu em setembro de 2018 e desde criança que ouço sobre o triste episódio da morte de seu esposo Lucemar também conhecido como Tuca. Ele faleceu após um jogo de futebol jogando pelo Unidos, time amador do Campeche. Tuca levou uma bolada na nuca no domingo do dia 08 de maio de 1966 vindo a óbito na madrugada da segunda feira de 09 de maio de 1966.

Agora viúva, Anilce casa com Gessi que durante muitos anos foi um dedicado motorista de ônibus no Sul da Ilha na Empresa Ribeironense.

MARIA BATUEL DA CUNHA

morreu muito jovem aos vinte e cinco anos de idade vitima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e deixou os filhos gêmeos Jaime, Jair e ainda o menino Jatemar apelidado de Mazico. As crianças foram criadas na casa do tio Batuel Apolônio da Cunha Junior, o Batuelinho.

ODÍLIA DA CUNHA NUNES,

filha mais nova de Batuel Apolônio da Cunha. Nasceu em 05 de março de 1939. Ficou órfã de sua mãe aos onze anos de idade. Dona Francisca sofria com problemas cardíacos e pressão arterial alta falecendo em 03 de junho de 1950 prestes a completar 51 anos de idade. Foi com a mãe que a menina Odília aprendeu a varrer a casa, lavar louça, cozinhar, torrar café. Com nove anos de idade aprendeu tão bem a arte de torrar café que sua mãe não precisou mais desempenhar essa função.

Sua brincadeira predileta era brincar de casinha. Varria o chão na sombra do abacateiro ou do garapuvu, dividindo as peças da casinha com casca de castelas, um molusco abundante nos mares do sul da Ilha. Fazia boneca com as folhas da mamoneira.

Odília ingressou na escola em 1946 aos sete anos de idade sendo aluna do professor Álvaro Dias que vinha do Saco dos Limões para dar aulas na escola que ficava nas imediações do elevado do Porto do Rio Tavares nos fundos onde hoje funciona a Intendência do Campeche, Posto da Casan, Pró-Cidadão da Prefeitura e Sub Prefeitura do Sul da Ilha. A casa onde funcionava a sala de aula pertencia ao senhor Germano Laureano. Odília estudou na cartilha que era uma introdução a alfabetização para depois iniciar o primeiro ano primário. Com a saída do professor Alvaro Dias a escola ficou fechada por um período de aproximadamente dois anos e a Odília foi estudar na escola da Dona Januária na Rua da Capela no Mato de Dentro (Campeche), indo em seguida completar seus estudos primários na Fazenda do Rio Tavares numa escola que funcionava na casa e engenho do senhor Lourenço Sabino na entrada da atual Rua Huberto Rohden. Ali foi aluna das professoras dona Onorina e Vani.

Quando sua mãe faleceu a Odília foi morar na casa de seu irmão Batuel Apolônio da Cunha Junior, conhecido como seu Batuelinho. A residência do Batuelinho era na Avenida Pequeno Príncipe, ao lado da Seove. Com ele já moravam o Jaime, a Jair e o Mazico, seus sobrinhos, a Juliana e dona Leca, suas cunhadas, o menino Valter filho da Juliana, dona Maria Antônia Fernandes sua sogra e ainda seus filhos.

Com 14 anos, juntamente com os sobrinhos, Jaime, Jair e o Mazico, retorna para a casa do pai na Rua Batuel da Cunha no Porto do Rio Tavares. Seu pai havia casado com a Maria Antônia irmã do João Antônio, moradores do Campeche. O casamento durou pouco mais de três anos, pois Maria Antônia faleceu de câncer. Um pouco antes do falecimento da madrasta, Odília foi morar na casa de sua irmã Edevirges no Mato de Dentro (Campeche) nas proximidades da Igreja São Sebastião. Os sobrinhos voltaram para a casa do Batuelinho e o seu pai, o Batuel levou Maria Antônia para ser cuidada pelo casal Abel Tavares e dona Cota (irmã da Maria Antônia), proporcionando-lhe um pouco mais de conforto.

Seu pai, agora viúvo novamente, passa a morar sozinho, mas Odília o visita quase que diariamente para fazer a comida, limpar a casa e lavar a roupa.

Odília relata que era uma jovem muito tímida e se divertia acompanhando a Bandeira do Divino pelas ruas do Campeche e Rio Tavares. Lembra que primeiro era a Bandeira da Lagoa que passava por aqui. Ainda não havia a Bandeira do Divino da Igreja São Sebastião do Campeche. Somente em 1954 é que o Campeche passou a ter sua Bandeira do Divino (Do Livro Campeche: um lugar no sul da ilha). Quando a Bandeira do Divino passava era como se fosse dia de feriado. Todos deixavam seus afazeres para acompanhar o cortejo. Outra diversão era participar das festas na Igreja São Sebastião do Campeche e dançar nos bailes do clube Horagá, do Hipólito Bernardino das Chagas, conhecido como Hipólito Farias na saída da Rua Pau de Canela, no Campeche. Nem sempre seu pai deixava ir ao baile, mas quando ela obtinha autorização, o combinado era voltar para casa antes do por do sol.

Odília tinha por volta de dezessete anos de idade quando passou a frequentar mais regulamente a casa de sua amiga Maria Francisca Nunes, filha do Arcelino Nunes e Francisca Joana Nunes, no Campeche. Quando chegava, seu Arcelino brincava: “pode chegar Odília, aqui tem bastante negrinho. Quem sabe você ainda vai escolher um para casar”. O Ageni, filho do Arcelino já despertava sua atenção e Odília iniciou então o namoro que durou um ano e meio. Ageni estava servindo ao Exército. Nesse período Odília frequentava muito o Clube Unidos do Campeche para ver o Ageni jogar. Ele se destacava como um dos melhores jogadores do time. Já com 20 anos de idade Odília reata o namoro com o Ageni e ficaram noivos logo em seguida. O noivado durou sete anos. Sua amiga Maria, irmã do Ageni, casou com o Aroldo Hermínio Faustino.

Odília preparou seu enxoval para o casamento lavando roupa para famílias da região. Lavou muita roupa para a família da Dona Iraci do Seu Gino, Olga do seu Maneca, Zenita Laureano, Jupira do Venâncio, para a Caxuxa, esposa do seu Venâncio entre outras. Lavou roupa também para a comadre Ventina na Carvoeira. A roupa para a comadre Ventina era entregue pelo Euclides Hipólito das Chagas, o Kido quando ele ia para o centro da cidade levar o leite na Leiteria. Odília ainda ganhava um dinheirinho engomando fardas como para os militares João Sérvulo das Chagas (João Farias) e seu irmão Timóteo Sérvulo das Chagas (Mota da Maria da Téia). Odília também fazia renda de bilro, mesmo confessando que não gostava muito deste ofício.

Odília além de colher café na chácara de seu pai, também participava da coleita de café na chácara do João Orlando na Cachoeira do Rio Tavares. Com o dinheirinho ganho na safra do café comprava roupa na cidade ou no comércio do seu Doval na Costeira do Pirajubaé.

Em 20 de maio de 1967, aos 27 anos de idade Odília casou com Ageni Arcelino Nunes e foram morar na casa do Batuel pai da Odilia na Rua Batuel da Cunha no Porto do Rio Tavares. Ageni tinha 28 anos de idade.

Foi um período muito difícil. Não havia empregos. O Ageni passou a trabalhar na construção civil onde participou na construção do prédio básico da Universidade Federal de Santa Catarina. Embora tenha passado no concurso para a SUCAM (superintendência de Campanha da Saúde) mais conhecida como Malaria e para a Universidade Federal, nunca foi chamado. Trabalhou também na empresa Estaca Frank no aterramento da Baía Norte. Em 1979 ingressou no Corpo de Bombeiros Militar onde se aposentou em 2001

Ageni faleceu em 27 de novembro 2012, aos 74 anos de idade, vitimado por um câncer.

Em 05 de março de 2019 Odília completou 80 anos de idade e com a graça de Deus está entre nós esbanjando vitalidade espalhando alegria por onde passa. O casal teve nove filhos, sendo eles: Odineia, Odalete, Odalúcia, Gevanildo, Adriana, Otiane, Geone, Odilésia e Apolônio.

Texto Hugo Adriano Daniel - Profhugoadroano@gmail.com

Fotos: Casal Ageni e Odília

Odília e os filhos

Edevirges

Confira todas as matérias da História do Sul da Ilha:

História do Sul da Ilha parte 1

História do Sul da Ilha parte 2

História do Sul da Ilha parte 3

História do Sul da Ilha parte 4

História do Sul da Ilha parte 5

História do Sul da Ilha parte 6

História do Sul da Ilha parte 7

História do Sul da Ilha parte 8

História do Sul da Ilha parte 9

História do Sul da Ilha parte 10

Praia do Matadeiro

Praia da Solidão
Ribeirão da Ilha

Pântano do Sul

Amojac
Casa de Retiros Vila de Fátima
História do Zaire - Toca da Pantera
 

 

Redação DuCampeche

ODÍLIA DA CUNHA NUNES